Resumen
Com foco nos agricultores familiares do Semiárido nordestino ? um dos segmentos da população brasileira mais vulnerável às mudanças e às variabilidades climáticas ? este artigo apresenta o processo de elaboração e de divulgação de uma cartilha educativa, criada de maneira colaborativa, para compartilhar as percepções desses agricultores sobre os riscos climáticos. A cartilha também visou divulgar opções de estratégias adaptativas desenvolvidas pelos próprios atores locais. Uma equipe de pesquisa interdisciplinar, integrante da sub-rede Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Regional (MCDR/Rede CLIMA), conduziu 1.140 entrevistas semiestruturadas em quatro áreas do Semiárido brasileiro: Seridó Potiguar-RN, Gilbués-PI, Juazeiro-BA e Chapada do Araripe-CE. Os questionários aplicados levantaram, entre outros, dados sobre as percepções dos agricultores familiares a respeito das mudanças do clima, seus valores culturais e suas expectativas a respeito do futuro dos seus modos de vida rurais. A partir dessas informações, criou-se uma cartilha educativa para restituir os dados coletados. Privilegiando o diálogo e a troca de saberes ou, nas palavras de Habermas, ?a negociação da definição de situação?, o instrumento de comunicação escolhido partiu do pressuposto de que as comunidades tendem a confiar em novas informações quando estas possuem, na sua percepção, relevância, credibilidade e legitimidade. Os resultados gerais da experiência demonstraram que possíveis barreiras sociais e culturais (tais como a incompreensão inicial entre cientistas e usuários do conhecimento) podem ser superadas por meio de ações colaborativas entre a academia, os tomadores de decisão e os usuários finais. A elaboração da cartilha encorajou o trabalho horizontal para identificar riscos climáticos e possíveis medidas de adaptação.