Resumen
A mídia, com seu papel de revigorar a esfera pública e criar um fórum para o discurso público, tem sido importante para a compreensão pública das mudanças climáticas, incluindo suas incertezas, controvérsias, riscos e ameaças, bem como as projeções futuras e as possibilidades de enfrentamento. Ao oferecer ao público formas simbólicas de representação da relação dos indivíduos com o fenômeno, a mídia tem a responsabilidade de tentar representar as questões complexas que cercam as mudanças climáticas, relacionando-as às experiências da vida moderna. Compreender essa divulgação midiática e suas características é um importante desafio colocado aos pesquisadores que se debruçam sobre a tríade ciência, comunicação e sociedade. Este artigo busca trazer contribuições para esse campo analítico, particularmente para uma lacuna que ainda existe em estudos sobre mudanças climáticas e cobertura midiática no Brasil, a partir da análise e da discussão de resultados de uma pesquisa que teve os seguintes objetivos: (i) compreender a divulgação de questões relacionadas às mudanças climáticas e à energia, a partir da análise de notícias publicadas em um jornal de grande circulação no Brasil, tendo como recorte temporal o período 2000 a 2014; e (ii) compreender percepções dos jornalistas sobre a cobertura jornalística feita acerca desses temas, a partir da análise de conteúdo das entrevistas realizadas com profissionais que cobrem esses assuntos em suas rotinas. Neste artigo, os resultados são apresentados e discutidos à luz de três argumentos analíticos: (i) tendência a uma cobertura jornalística mais centrada em eventos e acontecimentos pontuais; (ii) alterações na abordagem da cobertura sobre mudanças climáticas ao longo dos anos; (iii) adoção de critérios de noticiabilidade na seleção das informações divulgadas e na cobertura sobre mudanças climáticas, incluindo senso de oportunidade, interesse (pelo) humano e conflito.