Resumen
No final da segunda década do século XXI, o ?espírito científico? se vê mais uma vez atacado por uma onda anticientificista global com interferências especialmente graves no Brasil. Esse contexto prova a sobrevivência e a sedução contínua de concepções pré-científicas no imaginário contemporâneo. Torna-se novamente necessário revisitar os esforços de revisão dos fundamentos da ciência empreendidos pelo filósofo francês Gaston Bachelard (1884- 1962) no final dos anos 1930, quando a Europa vivenciava um período sombrio de guerras e apologia ao obscurantismo, à violência, à intolerância e ao extermínio. Reconhecer e defender os fundamentos da ?formação do espírito científico? em tempos tão adversos certamente exige a reiteração dos valores históricos do diálogo, da experiência sensível, da experimentação criteriosa, do compartilhamento de protocolos, da exposição pública à crítica e do debate. Entretanto, uma ?psicanálise do conhecimento objetivo? deve ir além e promover uma investigação epistemológica incisiva que reconheça falseamentos, distorções e obstáculos à formação de um novo espírito científico. Essa ?psicanálise? poderia contribuir para revigorar e reposicionar os entendimentos e as práticas científicas em uma nova condição dialética, crítica e consciente da mobilidade das imagens e das dinâmicas do imaginário que não atuam em outro âmbito senão naquele da política, da estética e da ética.