Resumen
O principal problema relacionado com as estimativas do valor adicionado de uma economia é a chamada dupla contagem. Em outras palavras, quando se mensura o valor bruto da produção, não se está capturando o esforço produtivo específico de uma comunidade, uma vez que os bens de consumo intermediário, produzidos pelos diferentes setores, nele estão incluídos. A solução para este problema é amplamente conhecida, no caso em que os cálculos são feitos a preços correntes. O presente artigo enfatiza o cálculo do valor adicionado a preços constantes. Neste caso, a forma de contornar o problema da dupla contagem consiste em usar o chamado método do duplo deflacionamento. Ou seja, a forma para que medidas não-enviesadas do crescimento produtivo de uma sociedade consiste em deflacionar o valor bruto da produção através de um índice de preços e deflacionar o consumo intermediário com outro. Em geral, não há motivo para se supor que o valor da produção e o consumo intermediário cresçam à mesma taxa. Assim, se o duplo deflacionamento não é realizado e, ato contínuo, caso se use o Índice de Quantum do valor bruto da produção como uma proxy ao valor adicionado real, os resultados podem estar apontando para um crescimento extraordinário, quando o que pode estar ocorrendo é simplesmente uma elevação no uso de insumos por unidade de produto. Em outras palavras, o que pode estar acontecendo é apenas uma elevação no grau de integração entre os diferentes setores da economia. No presente caso, os cálculos foram realizados para os anos limítrofes de 1970 e 1980, a partir das matrizes de insumo-produto produzidas pelo IBGE. Os resultados mostraram que o chamado "Milagre Econômico Brasileiro", ao apresentar uma taxa de crescimento de mais de 8%, deve ter seu nome mudado para um período em que ocorreu crescimento robusto (não muito extraordinário). Isto porque o duplo deflacionamento mostra que a verdadeira magnitude do crescimento do valor adicionado não foi muito superior a 6% ao ano.