Resumen
O projeto da transposição das águas do rio São Francisco foi concebido com o objetivo de garantir a segurança hídrica no semiárido. Contudo, a obra promoveu uma significativa mudança no tocante ao reordenamento social ao longo dos canais, afetando direta ou indiretamente comunidades e populações tradicionais em seus modos de vida e relações sociais, repercutindo sobre o acesso à água, o uso do solo e aspectos relacionados à produção. O presente artigo busca refletir sobre os impactos desse projeto em relação à privação do acesso à água por parte das famílias afetadas e os conflitos socioambientais decorrentes do deslocamento compulsório e do reassentamento das populações impactadas. Para isso, utilizou-se a abordagem quanto aos conflitos socioambientais no sentido de que grande parte do ônus do projeto recaiu sobre determinado grupo social ? no caso, as populações locais. O estudo realizado (por meio de questionário e observações) com as famílias reassentadas na Vila Produtiva Rural Lafayete, no município de Monteiro (PB), demonstrou que, mesmo tendo sido beneficiadas (com a vila situada às margens dos canais da obra), as famílias ficaram privadas do acesso à água por quase três anos após a chegada ao reassentamento, demonstrando o descaso da ação governamental com as populações tradicionais no contexto dos grandes projetos de desenvolvimento.