Resumen
O arrastão de praia, que tem na tainha seu principal alvo, é uma das mais antigas formas de pesca aindapraticadas no litoral do Paraná. Este artigo aborda aspectos da gestão patrimonial dessa pescaria, comênfase sobre as causas de seu declínio, segundo a percepção dos próprios pescadores. A abordagem foietnoecológica, empregando observação direta, aprendizado vivenciado e entrevistas semiestruturadas com13 informantes especialistas. Estes não consideraram que a prática leve à sobre-exploração do recurso,mas mostraram um senso de conservação baseado em considerações econômicas. Uma mentalidadeconservacionista surgiu muito recentemente, em decorrência das constatações empíricas de redução daabundância de peixes. A inserção de novas tecnologias de pesca mais produtivas e rentáveis contribuiupara as mudanças nos regimes de acesso aos recursos (caracterizadas principalmente pelo desrespeitoàs regras informais de uso). Uma ruptura de valores fomentou a competição, que se reflete no aumentodo esforço de pesca, na preferência por práticas individuais, no uso de apetrechos considerados predatóriose na pesca em regiões e períodos proibidos, levando ao declínio da atividade. As característicasparticulares do arrastão de praia, de ser uma pesca coletiva, que desenvolve laços e valores sociaisimportantes para o espírito comunitário, como coletividade, colaboração, respeito às normas sociais,reunião e partilha, precisam ser incorporadas à agenda de preocupações dos órgãos gestores. Para tanto,é necessária a participação dos usuários no processo de gestão, o que também permitiria considerardevidamente a história dessa prática e a projeção de cenários que os pescadores mais velhos conseguemfazer, baseados em suas experiências e nas profundas mudanças socioambientais pelas quais passaram. A incorporação da dimensão simbólica ou não material de apropriação do recurso é, neste sentido, umacondição necessária à gestão sustentável da atividade.